Na ‘era da dopamina’, as bets acabam com o jovem brasileiro
- Pedro Ernestro
- 4 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de jan.
Nos últimos anos, as apostas on-line, também conhecidas como bets, ganharam popularidade de forma exponencial, impulsionadas pela velocidade da internet e pela normalização da prática através de campanhas publicitárias massivas. Enquanto para alguns indivíduos essas atividades podem parecer uma forma inofensiva de entretenimento, para muitos, os efeitos colaterais vão muito além do impacto financeiro, afetando principalmente a saúde mental.
Fácil acesso
Uma das principais razões pelas quais as apostas on-line têm um impacto significativo na saúde mental é a facilidade de acesso. Com apenas alguns cliques na tela do celular, é possível participar de cassinos virtuais ou apostas esportivas a qualquer hora do dia. Essa disponibilidade cria um ambiente propício para o comportamento compulsivo, que faz com que o jogador possade facilmente perder o controle.
A ausência de limites físicos — como horários de funcionamento ou deslocamento até um local de apostas — contribui para o vício. A constante exposição a oportunidades de apostar aumenta os níveis de estresse, ansiedade e até mesmo a depressão, especialmente quando as perdas se acumulam.
Ciclo de recompensa
As plataformas de apostas on-line são projetadas para ativar o sistema de recompensa do cérebro. Cada vitória, por menor que seja, libera dopamina, neurotransmissor associado ao prazer. Essa descarga química cria um ciclo viciante, no qualonde a pessoa sente uma necessidade crescente de continuar apostando para experimentar novamente aquela sensação de êxtase.
No entanto, as perdas subsequentes — inevitáveis em sistemas projetados para favorecer a casa — causam frustração e sofrimento emocional. A oscilação entre o prazer da vitória e a dor da derrota cria um estado mental instável, que pode levar a transtornos como ansiedade generalizada, depressão severa e até mesmo pensamentos suicidas.
Impacto financeiro
Nessa discussão, é inevitável associar os efeitos psicológicos das apostas on-line ao impacto financeiro que elas podem causar. As perdas frequentes podem levar a dívidas significativas, e uso de dinheiro essencial, como Bolsa Família e auxílios de vida e saúde.
Pelas bets, pessoas recorrem a empréstimos para tentar recuperar o que perderam, o que agrava ainda mais a situação. Esse comportamento, conhecido como “jogar para recuperar”, é uma das marcas do vício em jogos de azar.
Vulnerabilidade jovem digital
Publicidades atraentes, muitas vezes disfarçadas de conteúdo esportivo ou entretenimento, são direcionadas a audiências mais jovens, que podem não estar cientes dos riscos envolvidos. Essa exposição precoce a jogos de azar pode levar ao desenvolvimento de hábitos prejudiciais desde cedo, aumentando a probabilidade de vícios na vida adulta.
Além disso, a gamificação das apostas — com gráficos coloridos, recompensas instantâneas e elementos que lembram videogames — torna a prática ainda mais atraente para essa faixa etária, criando uma geração vulnerável a problemas de saúde mental associados ao jogo.
Enfrentar o impacto das apostas on-line na saúde mental exige ações em múltiplos níveis. Governos e reguladores precisam impor limites mais rígidos à publicidade de apostas, especialmente em plataformas digitais, e exigir que as empresas adotem práticas de jogo responsável.
É igualmente importante ampliar o acesso a recursos de apoio e tratamento para aqueles que enfrentam problemas com jogos de azar. Campanhas de conscientização podem ajudar a reduzir o estigma em torno do vício em apostas, incentivando as pessoas a buscar ajuda sem medo de julgamento.
Além disso, a educação financeira e emocional pode desempenhar um papel fundamental na prevenção, ensinando indivíduos — especialmente jovens — a identificar os riscos associados ao jogo e a desenvolver habilidades de autocontrole.
Afinal, a verdadeira aposta que não podemos perder é a nossa saúde e o nosso bem-estar.