Fim da escala 6x1 tem apoio feminino e é artifício contra jornada dupla
- Beatriz Serejo e Maurício Luz
- 6 de jan.
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Atualizado: 28 de jan.
PEC debatida na Câmara dos Deputados beneficiaria a maioria das mulheres do país
A discussão sobre a extinção da escala 6×1, modelo em que se trabalha seis dias com uma folga por semana, mobilizou a sociedade brasileira no último mês de novembro. Segundo pesquisa feita pelo Projeto Brief, em parceria com a plataforma Swayable, 70% da população é a favor do movimento.
“A alteração proposta à Constituição Federal reflete um movimento global em direção a modelos de trabalho mais flexíveis aos trabalhadores, reconhecendo a necessidade de adaptação às novas realidades do mercado de trabalho e às demandas por melhor qualidade de vida dos trabalhadores e de seus familiares”, justifica a parlamentar no Projeto de Lei.
Foram ouvidos 3.122 brasileiros no estudo, que aponta forte apoio popular à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), sobretudo entre as mulheres. Entre as entrevistadas, 86% se mostraram favoráveis à justificativa do PL da deputada.
Neste sentido, o apoio do público feminino na discussão do fim da escala 6x1 reflete a exaustão causada pela carga horária de trabalho, que não é exclusiva do âmbito profissional. Em março deste ano, um levantamento realizado pela Infojobs apontou que oito a cada 10 mulheres vivenciam a “dupla jornada de trabalho”, com a realização de atividades domésticas e serviços de cuidado com crianças e familiares idosos, além das profissionais.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves (PT-SP), durante a discussão sobre a PEC, defendeu que o fim da escala de trabalho 6×1 irá beneficiar as mulheres brasileiras. “Vai ser um benefício. Isso significará ter mais tempo para se cuidar, se preparar ou mesmo para cuidar do que quiser”, afirmou a ministra à Agência Brasil.
Cida também enfatizou que este é um debate importante para o Brasil, que precisa ser amadurecido e avançado. “Acho que é importante dizer que a [PEC contra a] 6×1 de fato vai beneficiar as mulheres. Nós aprovamos na Câmara a Política Nacional de Cuidados, está indo para o Senado. Se a gente juntar as duas coisas, acho que vai ser superimportante para que possamos amadurecer a valorização das mulheres no trabalho remunerado e não remunerado, e o uso do seu tempo”, defendeu a ministra.
Para Fátima da Conceição (41), atualmente gerente de vendas de uma varejista, o fim da escala 6x1 representa mais do que a valorização de suas duas jornadas de trabalho. Para ajudar a família, Fátima começou a trabalhar muito jovem, ainda adolescente. Desde sempre, sua jornada de trabalho sempre foi marcada pela escala 6x1. "Comecei como jovem aprendiz de uma loja de varejo, e era aquele ritmo frenético. Depois de uns anos, fui subindo na empresa até começar nas lojinhas de rua, no centro da cidade. Mas a jornada era a mesma: seis dias trabalhando e um em casa."
Fátima comenta ainda o quão dolorido é conciliar a vida pessoal com a profissional. "Casamento, filhos, tudo isso enquanto trabalhava nos finais de semana, feriados... Era difícil, mas a gente acabou se acostumando”, rememorou a varejista.
Ao chegar em casa, Fátima ainda se depara com outras responsabilidades domésticas. A louça suja na pia, a roupa das crianças para lavar, a comida do dia seguinte que ainda está por fazer, e as filhas que esperam a mãe chegar do trabalho. No fim do dia, sua jornada de trabalho, que começa às 8h, só termina às 23h.
A gerente faz parte dos 45% das mulheres que, segundo o Infojobs, não contam com uma rede de apoio para ajudá-la em sua dupla jornada de trabalho. “A verdade é que eu não descanso nenhum dia. Nas folgas do trabalho, aproveito para arrumar a casa, organizar as coisas das meninas, colocar as responsabilidades em dia, mas eu sempre tento me fazer presente para a minha família. E apesar de ser cansativo, eles não têm culpa de nada.”
Política Nacional de Cuidados: solução para as mulheres?
Foi aprovada na última terça-feira (12), no Senado Federal, a Política Nacional de Cuidados. O Projeto de Lei n. 5791/2019 reconhece a responsabilização familiar, sobretudo de meninas e mulheres negras e de territórios rurais e periferias urbanas, e a ausência de políticas públicas e do Estado.
O projeto define como “cuidado” o “trabalho cotidiano de produção de bens e serviços necessários à sustentação e à reprodução diária da vida humana, da força de trabalho, da sociedade e da economia, e à garantia do bem-estar de todas as pessoas”.
O senador Paulo Paim (PT-RS), relator do projeto, celebrou a aprovação unânime no Senado. “Os senadores todos apoiaram por unanimidade, porque entenderam que esse projeto é um projeto para o povo brasileiro. Veio do povo e agora volta para o povo em forma de lei”. O projeto é tão grandioso, que ultrapassou as fronteiras da situação e oposição, do governo anterior e deste governo”, declarou Paim. Agora, resta a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser aprovado.
Publicado por: Ana Luiza